ATENÇAO ALUNOS!!!

PARA CADA ETAPA DO PAS ,POSTAREI QUINZENALMENTE ALGUMAS SUGESTÕES DE LEITURAS,APRECIAÇÃO DE OBRAS DE ARTE E MÚSICAS DE ACORDO COM O SUBPROGRAMA DISPONÍVEL NO SITE DO CESPE/PAS/UNB.BOA SORTE.MARCELA

sexta-feira, 29 de abril de 2011

3ª etapa :O Operário em construção de Vinícius de Moares (Experimentem ouvir e ler o poema no post abaixo) )

3ª etapa do PAS /Unb: textos iniciais sugeridos .Comente

É possível pensar uma relação, nos seres humanos, entre
as dimensões política, ética e estética que permitem interações e ultrapassam
as exigências de necessidades ou o império de utilidades no convívio. Essa
relação pode proporcionar aproximação a partir de interesses comuns e, ao
mesmo tempo, garantir a singularidade de cada pessoa. Este objeto de
conhecimento está, então, fundado na interação humana. Daí sua importância.
Isso pode ser reconhecido em textos como Visão 1944 e Mãos dadas, de
Carlos Drummond de Andrade; A hora e a vez de Augusto Matraga e A
terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa; Felicidade clandestina e
O ovo e a galinha, de Clarice Lispector; e O operário em construção, de
Vinícius de Moraes.

Visão de 1944 de Carlos Drummond de Andrade(1902-1987)

Meus olhos são pequenos para ver
a massa de silêncio concentrada
por sobre a onda severa, piso oceânico
esperando a passagem dos soldados.

Meus olhos são pequenos para ver
luzir na sombra a foice da invasão
e os olhos no relógio, fascinados,
ou as unhas brotando em dedos frios.

Meus olhos são pequenos para ver
o general com seu capote cinza
escolhendo no mapa uma cidade
que amanhã será pó e pus no arame.

Meus olhos são pequenos para ver
a bateria de rádio prevenindo
vultos a rastejar na praia obscura
aonde chegam pedaços de navios.

Meus olhos são pequenos para ver
o transporte de caixas de comida,
de roupas, de remédios, de bandagens
para um porto da Itália onde se morre.

Meus olhos são pequenos para ver
o corpo pegajento das mulheres
que foram lindas, beijo cancelado
na produção de tanques e granadas.

Meus olhos são pequenos para ver
a distância da casa na Alemanha
a uma ponte na Rússia,
onde retratos, cartas, dedos de pé bóiam em sangue.

Meus olhos são pequenos para ver
uma casa sem fogo e sem janela
sem meninos em roda, sem talher,
sem cadeira, lampião, catre, assoalho.

Meus olhos são pequenos para ver
os milhares de casas invisíveis
na planície de neve onde se erguia
uma cidade, o amor e uma canção.
Meus olhos são pequenos para ver
as fábricas tiradas do lugar,
levadas para longe, num tapete,
funcionando com fúria e com carinho.

Meus olhos são pequenos para ver
na blusa do aviador esse botão
que balança no corpo, fita o espelho
e se desfolhará no céu de outono.

Meus olhos são pequenos para ver
o deslizar do peixe sob as minas,
e sua convivência silenciosa
com os que afundam, corpos repartidos.

Meus olhos são pequenos para ver
os coqueiros rasgados e tombados
entre latas, na areia, entre formigas
incomprensivas, feias e vorazes.

Meus olhos são pequenos para ver
a fila de judeus de roupa negra,
de barba negra, prontos a seguir
para perto do muro - e o muro é branco.

Meus olhos são pequenos para ver
essa fila de carne em qualquer parte,
de querosene, sal ou de esperança
que fugiu dos mercados deste tempo.

Meus olhos são pequenos para ver
a gente do Pará e de Quebec
sem notícias dos seus e perguntando
ao sonho, aos passarinhos, às ciganas.

Meus olhos são pequenos para ver
todos os mortos, todos os feridos,
e este sinal no queixo de uma velha
que não pôde esperar a voz dos sinos.

Meus olhos são pequenos para ver
países mutilados como troncos,
proibidos de viver, mas em que a vida
lateja subterrânea e vingadora.

Meus olhos são pequenos para ver
as mãos que se hão de erguer, os gritos roucos,
os rios desatados, e os poderes
ilimitados mais que todo exército.

Meus olhos são pequenos para ver
toda essa força aguda e martelante,
a rebentar do chão e das vidraças,
ou do ar, das ruas cheias e dos becos.

Meus olhos são pequenos para ver
tudo que uma hora tem, quando madura,
tudo que cabe em ti, na tua palma,
ó povo! que no mundo te dispersas.

Meus olhos são pequenos para ver
atrás da guerra, atrás de outras derrotas,
esta imagem calada, que se aviva,
que ganha em cor, em forma e profusão.

Meus olhos são pequenos para ver
tuas sonhadas ruas, teus objetos,
e uma ordem consentida (puro canto,
vai pastoreando sonos e trabalhos).

Meus olhos são pequenos para ver
esta mensagem franca pelos mares,
entre coisas outroras envilecidas
e agora a todos, todas ofertadas.

Meus olhos são pequenos para ver
o mundo que se esvai em sujo e sangue,
outro mundo que brota, qual nelumbo
- mas vêem, pasmam, baixam deslumbrados.




Mãos dadas (Carlos Drummond de Andrade-1902-1987)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (GUIMARÃES ROSA)

AUGUSTO ESTÊVES mandava e desmandava. Era chefe de jagunços, o homem mais temido das redondezas. Tinha mulher, chamada DIONÓRA, e uma FILHA pequena, mas era bruto e infiel, uma peste. Um dia, durante uma festa, nhô Augusto se engraçou com TOMÁSIA, uma menina nova que apareceu no arraial. Pouco se importou com o NAMORADO que a acompanhava. Roubou-a do rapaz que humilhou e espancou à vista de todos. Partiu com a nova conquista, mas, assim que se afastaram, desprezou a menina. Empurrou-a pra longe e foi embora rindo. Tudo o que queria era confusão e ela só tinha sido o pretexto. Chegando em sua fazenda, nhô Augusto mandou seu empregado mais fiel, QUIM RECADEIRO, levar Dionóra e a filha para uma outra propriedade. Estava cansado da companhia delas e queria sossego. Quim obedeceu, mas, no caminho, Dionóra encontrou seu amante, OVÍDIO, que fugiu com ela e a menina. Quim correu para contar ao patrão o que acontecera e, no caminho, percebeu que as coisas iam mesmo mal para Augusto Estêves. O maior inimigo dele, MAJOR CONSILVA, sabendo que nhô Augusto andava endividado, tinha decidido que iria tomar-lhe as terras e o poder. Nhô Augusto estava decidido a lavar sua honra com sangue: iria matar Dionóra e Ovídio. Mas, antes, passou na fazenda do Major Consilva para ameaçá-lo e fazê-lo desistir de qualquer ataque. O problema é que o tal ataque já estava armado. Os capangas do Major Consilva espancaram Augusto Estêves, quebrando-lhe costelas, braços e pernas. E marcaram seu corpo com o ferro em brasa do gado. Nessa hora, Augusto Estêves deu um salto e caiu de uma ribanceira alta. Os capangas julgaram que estava morto, mas ele ainda vivia. Um negro, PAI SERAPIÃO encontrou aquele homem moído de tanta pancada, levou-o para seu casebre e, junto com a esposa, a negra MÃE QUITÉRIA, cuidou dele. Augusto Estêves levou meses para sarar. Apegou-se então à religião. Aconselhado por seus benfeitores negros e por um PADRE, Nhô Augusto arrependeu-se de sua vida de pecados e decidiu mudar. Assim que teve forças para se levantar, pôs-se a trabalhar no campo. Todos os dias, rezava com fervor para que Deus salvasse sua alma e afastasse dele o desejo de vingança. Seis anos se passaram. Nhô Augusto tornou-se um “santo”: já não bebia, tentava fazer o bem aos outros, seguia os ensinamentos de Jesus. Certo dia, chegou por aquelas bandas um velho conhecido, TIÃO DA THEREZA. Sem que Augusto Estêves pedisse, Tião contou o que acontecera durante aquele tempo. Quim Recadeiro tentara vingar o patrão e fora assassinado. Dionóra continuava amigada com Ovídio. Como todos pensavam que Augusto estava morto, o casal adúltero pensava em se casar na igreja. Quanto à menina, tinha tido um destino triste. Fugira de casa e virara prostituta. Augusto Estêves sofreu ao ouvir essas notícias. Voltou-lhe a vontade de se vingar, de lavar a honra com sangue. Mas o desejo de salvar sua alma era maior. Augusto Estêves pediu que Tião não contasse para ninguém que o vira e continuou com sua vidinha de trabalho pesado e novenas. Tempos depois, apareceu por aquelas bandas o mais famoso e temido cangaceiro de todo o sertão: o famigerado JOÃOZINHO BEM-BEM. A cidade inteira ficou apavorada, temendo os saques e estupros. Só Nhô Augusto teve coragem de ir falar com o bandido. Perceberam que eram de caráter parecido e ficaram amigos. Augusto convidou o bando para pernoitar no sítio. Eles comeram, beberam e contaram suas aventuras. Joãozinho, intuindo o que Augusto fora no passado, convidou-o para entrar no bando. Ele ficou tentado, mas, apegado ao objetivo de salvar sua alma, negou. O bando de Joãozinho Bem-Bem partiu e a vida de Augusto Estêves voltou à tranqüilidade anterior. Mas ele sentia uma inquietação difícil de controlar. Certa manhã, despediu-se de seus benfeitores e partiu. Queria viajar, conhecer outras terras. Em suas andanças, Augusto Estêves acabou reencontrando o bando de Joãozinho Bem-Bem. O bandido recebeu-o com afeto de irmão. Mais uma vez, convidou-o a se tornar um jagunço. Mais uma vez, Augusto negou. Estava determinado a salvar sua alma. Joãozinho Bem-Bem contou que já estavam de partida, fugindo de um destacamento militar que se aproximava da região, mas que, antes, iriam vingar a morte de um dos jagunços, Juruminho, que fora morto à traição. Apareceu um velho, JOÃO LOMBA, pai do rapaz que matara Juruminho. O velho (por coincidência, velho conhecido de Augusto) chorava e babava, implorando para que não matassem seus filhos e estuprassem sua mulher e filhas. Mas Joãozinho Bem-Bem estava irredutível. Seu capanga tinha sido morto e ele tinha que se vingar. Então uma surpresa: Augusto Estêves colocou-se entre Joãozinho e o Velho e disse que não iria permitir aquela malvadeza. Pediu que Joãozinho Bem-Bem partisse sem vingança ou então teria que se ver primeiro com ele. Os dois se enfrentaram aos tiros, facadas e pescoções. Logo, estavam no chão, sangrando, à beira da morte. Joãozinho Bem-Bem disse, antes de apagar para sempre: “Morro, mas morro na faca do homem mais maneiro de junta e de mais coragem que eu já conheci”. Nhô Augusto sussurrou para o velho: “Põe benção na minha filha... seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo em ordem!”. Depois, morreu.


Fonte: http://pt.shvoong.com/books/novel-novella/1653501-hora-vez-augusto-matraga/#ixzz1Kv2H2wGC

A Terceira Margem do Rio ( Guimarães Rosa)

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

FELICIDADE CLANDESTINA (CLARICE LISPECTOR)
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

O OVO E A GALINHA ( CLARICE LISPECTOR)
De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.

Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.

Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.

O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.

Ao ovo dedico a nação chinesa.

O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.

O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.

O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.

O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.

Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.

Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.

E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.

É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.

“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.

A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.

Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.

De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.

A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.

Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.

E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.

Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.

A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.

Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.

Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.

E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.

Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.

Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.

Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.

Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.


LISPECTOR, Clarice. "O ovo e a galinha". In: Felicidade Clandestina: José Olympio, 1975

O Operário Em Construção ( Vinicius de Moraes)

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

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“Existem três tipos de normas morais: a divina, a política, e a da opinião pública. O bem é o prazer, ou aquilo que o provoca, e o mal é a dor, ou aquilo que a provoca.”Sobre este trecho do Ensaio Sobre o Entendimento Humano de John Locke faça comentários:

quinta-feira, 28 de abril de 2011

2ª ETAPA :VOLTAIRE Cândido, ou O Otimismo

Cândido, ou O Otimismo, ("Candide, ou l Optimisme") (1759) é um romance filosófico de autoria do pensador iluminista Voltaire. Voltaire jamais admitiu abertamente ter escrito o controverso Cândido; o trabalho foi assinado por um pseudônimo: "Monsieur le docteur Ralph", literalmente, "Senhor Doutor Ralph".
O texto contrapõe brilhantemente ingenuidade e esperteza, desprendimento e ganância, caridade e egoísmo, delicadeza e violência, amor e ódio. Tendo como plano de fundo a sociedade do Séc. XVIII, retrata um mundo extremamente cruel e materialista.
Muitos dos personagens do romance passam pelas mais diversas torturas físicas e psíquicas. De qualquer modo, Voltaire também apresenta uma sociedade utópica, quando Cândido e seu criado Cacambo vão à cidade de Eldorado, um lugar místico na América do Sul, onde havia muito ouro e pedras preciosas, mas ninguém se importava com toda essa riqueza. Eles deixam esse belo lugar para procurar Cunegundes até que Cândido consegue encontrá-la em Constantinopla (atual Istambul), na Turquia.
Há uma segunda parte no romance, muito menos conhecida, em que Cândido deixa o jardim na Turquia. Após muitas aventuras e seu casamento com uma outra mulher, ele fica na Dinamarca, e alcança uma alta posição na corte real.
"Cândido" é uma das obras mais conhecidas de Voltaire.
O texto contrapõe ingenuidade e esperteza, desprendimento e ganância, caridade e egoísmo,
delicadeza e violência, amor e ódio. Tudo isso mesclado com discussões filosóficas sobre causas e efeitos, razão suficiente, ética.
Como sempre Voltaire expõe suas concepções com fina ironia, sem abandonar o sarcasmo de quando
em vez. O romance, em todos e cada um dos seus parágrafos, caracteriza-se como uma sátira às idéias de Leibnitz.
Leibnitz afirmara, pelo menos assim entendeu Voltaire, que o mundo é o melhor possível, que Deus
não poderia ter construído outro e que tudo corria às mil maravilhas.
Voltaire não podia partilhar dessa mesma visão otimista, suas idéias tinham resultado em prisões e perseguições a tal ponto que, por volta de 1753, já não podia fixar-se, sem risco, em lugar algum da Europa.
Cândido foi expulso de onde morava, foi preso e torturado, perdeu sua amada, seus melhores amigos; em todos os casos com requintes de crueldade. Mas a cada um desses fatos, meditava sobre como explicar o melhor dos mundos possíveis, sempre com deboche mais ou menos sutil.

2ª ETAPA ensaio sobre o entendimento humano john locke (Resumo)

John Locke (1632–1704) Nasceu em nasceu em Wrington, Inglaterra. Além de filosofia , estudou medicina e ciências naturais. . Manifestou opiniões contrárias à filosofia de Aristóteles. São os seguintes os autores que o influenciaram: John Owen (1616-1683) que pregava a tolerância religiosa, Descartes (1596-1650) que havia libertado a filosofia da escolástica e Bacon (1561- 1626), de quem aproveitou o método de correção da mente, e a investigação experimental. Interessou-se pelas experiências químicas do também físico Robert Boyle (1627-1691), que inovaram introduzindo o conceito de átomo e elementos químicos. Foi um avanço em relação à alquimia que dominou durante a Idade Média e a concepção de Aristóteles dos quatro elementos. Locke atuou nos campos de medicina, filosofia, política, teologia e anatomia. Não gostava de matemática. Redigiu em Latim, Ensaios sobre a lei da natureza .Já nessa época apresentava gosto pela regra experimental, de onde deriva sua filosofia empirista.
Locke desenvolveu, a partir da obra de Bacon, uma teoria voltada para melhorar o uso do intelecto.Para isso, precisou analisar os meios que o intelecto tem para conhecer, como chegou ao ponto em que entende o mundo, e o interpreta. John Locke enfatizou o lado gnosiológico da origem das idéias e representações. A idéia para Locke, é “tudo que o espírito percebe em si mesmo, e que é objeto imediato de percepção e pensamento.”Portanto, essa noção de idéia foi feita e corresponde com a idéia cartesiana. Não tem a ver com a idéia platônica, que aliás John Locke rebateu por ser contrário ao inatismo. A idéia em John Locke deve ser compreendida como o conteúdo da consciência, o material do conhecimento. Ele foi contra o inatismo presente em Platão e Descartes, e defendeu a teoria de que o conhecimento deriva da prática. Compara a mente a uma tabula rasa, uma folha de papel em branco. O intelecto humano não pode formular idéias do nada, nem o espírito traz em si memórias e conceitos presentes a priori. Para Locke, todos os dados da mente derivam da experiência. A experiência é a fonte e o limite do intelecto.
Locke formulou suas críticas ao inatismo, argumentando contra os pensadores platônicos da escola de Cambridge, entre os quais Ralph Cudworth, que sustentava que a idéia da existência de Deus provinha de uma noção inata. Para Cudworth, a teoria empirista que Locke adota, segundo a qual não há nada na mente que não tenha estado antes nos sentidos, deve ser combatida, por ser ateísta.
O livro I do Ensaio é dedicado à crítica do inatismo. Locke julga o inatismo uma doutrina de preconceito que leva ao dogmatismo individual. Mostra que há outros modos de se chegar ao consenso universal, que na verdade não existe. Ele dá exemplos de coisas que crianças e deficientes não possuem, como o princípio da identidade, não contradição e fundamentos éticos. Até mesmo a concepção não é inata, pois apresenta diversidade e varia a crença de cada povo. Em alguns , até não existe essa crença.
Locke afirma ser absurdo existir certos princípios inatos, mas não se estar consciente disso. Se há algo na alma , há a consciência desse algo. Também é assim com os princípios morais. Locke fala que em certos lugares coisas são repreensíveis, e em outros as mesmas coisas são motivo de mérito. Locke também destitui de validade o argumento ontológico para a existência de Deus, da autoria de Santo Anselmo.
Para o argumento de que o intelecto pode criar idéias, John Locke responde que ele pode apenas combinar as idéias percebidas pelos sentidos. Mas não pode criá-las, nem tampouco destruí-las. Concluindo, Locke aponta a experiência como a única fonte possível de idéias. A alma trabalha o material percebido depois.
Locke aponta duas fontes para o conhecimento empírico: ele é derivado da experiência sensível ou da reflexão. As idéias estão no intelecto, e no mundo objetivo existe algo que tem o poder de fazer o intelecto entendê-las como tal. Um corpo tem qualidades primárias, como a extensão, a solidez, a figura. E secundárias como a cor o odor e o sabor. As secundárias são variações das primárias, são subjetivas, parecem como são para os sentidos. As idéias simples forçam uma passividade por parte do sujeito , que pode operar sob diversos modos sob os dados dos sentidos e sob a reflexão, formando assim as idéias complexas. As idéias se conservam depois de percebidas. A memória é necessária para a ação intelectual, pois faz representações. A atividade do intelecto produz idéias complexas, dividas em três grupos principais:
a) de modo: estado e constituições de coisas e processos, não existem por si mesmas, mas dependem da sensação. Os modos simples tem componentes homogêneos (por exemplo um número) os modos mistos tem componentes heterogêneos (por exemplo muitas sensações que dão idéia de beleza). Exemplos de idéias de modo: a gratidão e o homicídio.
b) de substância. Nascem do hábito de ver idéias simples juntas, que são tomadas como uma complexa. Não nos tornamos conscientes sem saber porque nem como isso acontece. Nesse grupo estão a representação de coisas como o homem e de coletividade, o universo. Deus também pertence ao grupo de idéias complexas de substâncias.
c) relações- nascem da comparação e confronto entre as idéias que o intelecto percebe. Por exemplo, o conceito de pai, filho, sogro, diferença e semelhança.
O infinito, para Locke, é um modo simples. Não podemos realmente conceber o infinito. O infinito é a repetição de número, duração e espaço. O infinito portanto não é anterior, a causa última do finito.
Na filosofia anterior a Locke, havia a teoria de que a substância constitui a essência das coisas. Essa noção estava em Descartes. Locke observa que a essência não pode ser a substância. Ou melhor, a substância não é conhecida pelos sentidos na sua essência. A identidade, o eu, está fora da substância.
A abstração, para Locke, é a ressaltação de certas qualidades das idéias, portanto reduz e parcializa as idéias complexas.
No quarto livro do Ensaio, Locke trata do conhecimento. As idéias são o material do conhecimento, que nasce da percepção delas, e faz conexões, concordâncias, contrastes e discordâncias entre as idéias. A correspondência entre duas idéias é importante para o conhecimento. São de quatro tipos:
a) identidade e diversidade . Uma idéia se diferencia da outra.
b)relação. A ciência nasce da relação entre idéias diferentes.
c)coexistência ou não de um mesmo objeto. Pertence às substâncias.
d)existência real. Independente do eu individual que a percebe.
A percepção da realidade pode ser feita de dois modos:
a) por intuição- é claro e certo, não necessita de prova. Vem da evidência imediata.
b) por demonstração- o espírito percebe as diferenças e semelhanças das idéias, mas não de imediato. Procede e se desenvolve por concatenações, associação das intuições. A existência de Deus pode ser demonstrada racionalmente. John Locke usa a prova cosmológica para isso. Sabemos, de forma intuitiva, que algo existe desde a eternidade, pois se não existisse, o início teria de vir de alguma outra coisa. Para John Locke, a certeza que Deus existe é mais absoluta que as impressões dos sentidos. Nesse ponto, ele concorda com Descartes.
John Locke reconhece duas classes de ciências: as reais (naturais e metafísicas) e as idéias (matemática e ética) . A matemática deve trabalhar com modelo próprio. A ética também se refere ao conteúdo que provém da mente humana. Assim, não há liberdade total e Estado juntos. Todo o delito deve ser castigado.
John Locke atuou também politicamente. Ele foi contrário aos teóricos do absolutismo, como Hobbes. Disse que não há poder inato, nem direito político divino. Para ele, uma boa ação concorda com uma norma. Existem três tipos de normas morais: a divina, a política , e a da opinião pública. O bem é o prazer, ou aquilo que o provoca, e o mal é a dor, ou aquilo que a provoca.
Todos os homens nascem e são iguais por natureza. Usam a razão, um bem comum, para construir a sociedade, e dela partilhar os resultados. O Estado vem do direito natural, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade. O Estado deve promulgar o bem estar geral. O governo não pode ser tirânico, nem patriarcal.
O Estado não deve ser baseado na fé, nem na religião. Um governante, um príncipe, é necessário para assegurar a validade do pacto social, mas o direito dele vem do povo, não da religião. E ele é submisso às leis. Não pode tudo, como outros teóricos afirmaram. (Maquiavel, por exemplo) Se falhar, o povo tem direito à revolução.
John Locke foi o fundador do liberalismo constitucional, que concebe o Estado submetido à um contrato. O direito natural da propriedade, fruto do trabalho é o fundamento do valor econômico vital do trabalho. John Locke influenciou o liberalismo de Adam Smith (1723- 1790) e Ricardo (1772-1883). Ele também dividiu , na teoria, os poderes em dois: Legislativo e Executivo. Esses poderes são necessários para garantir a validade da lei e a ausência de tirania.
Até a época em que atuou, John Locke foi o filósofo moderno que mais tinha bem definida suas opiniões políticas e filosóficas. Bacon fizera sugestões. Hobbes estava desacreditado, e Spinoza era extremista. John Locke fez a ponte entre Descartes e o que viria a ser o Iluminismo. Influenciou Berkeley e Hume que partiram de sua filosofia empírica, mas não radicalmente empírica, pois admite a existência do sobrenatural. Era racionalista, mas acreditava na revelação divina. Achava que a existência de Deus podia ser provada racionalmente. Leibniz escreveu uma resposta ao Ensaio, em que defende uma volta ao inatismo
Fonte: http://www.consciencia.org/locke.shtml

2ª ETAPA Cantata 140

Coro de "Despertai" (Wachet Auf), Cantata 140
"Esta cantata é baseada no coral do mesmo nome de Philipp Nicolai. Este hino luterano continua popular hoje, tanto em seu original alemão como em uma variedade de traduções. O texto se baseia na parábola das dez virgens (Mateus 25:1-13), é uma leitura programada no lecionário luterano para o 27º domingo após a Trindade[2], como este domingo ocorre somente no ano da igreja, quando a Páscoa é muito cedo, a cantata é executada raramente.[3] A raridade da ocasião para a qual foi composta faz dela uma das poucas cantatas cuja data decomposição é definitivamente conhecida.sEGUE ABAIXO APENAS UM TRECHO:

Wachet auf, ruft uns die Stimme
Der Wächter sehr hoch auf der Zinne,
Wach auf, du Stadt Jerusalem!
Mitternacht heißt diese Stunde;
Sie rufen uns mit hellem Munde:
Wo seid ihr klugen Jungfrauen?
Wohl auf, der Bräutgam kömmt;
Steht auf, die Lampen nehmt! Alleluja!
Macht euch bereit
Zu der Hochzeit,
Ihr müsset ihm entgegen gehn!

Er kommt, er kommt,
Der Bräutgam kommt!
Ihr Töchter Zions, kommt heraus,
Sein Ausgang eilet aus der Höhe
In euer Mutter Haus.
Der Bräutgam kommt, der einem Rehe
Und jungen Hirsche gleich
Auf denen Hügeln springt
Und euch das Mahl der Hochzeit bringt.
Wacht auf, ermuntert euch!
Den Bräutgam zu empfangen!
Dort, sehet, kommt er hergegangen
TRADUÇÃO:
Despertai, chama-nos a voz
Do vigia do alto da muralha.
Despertai, Jerusalém!
Os sinos batem a meia-noite
E chamam-nos com bocas brilhantes:
Onde estais, virgens prudentes?
Celebrai, o noivo está vindo.
Levantai-vos, pegai vossas lâmpadas! Aleluia!
Preparai-vos
para as bodas
Deveis encontrá-lo!

Ele está vindo, ele está vindo,
O noivo está vindo!
Saí, ó filhas de Sião!
Ele vem correndo do alto
para a casa de vossa mãe.
O noivo está vindo, tal como um corço,
Tal como um jovem cervo
A saltar pelas colinas
Trazendo a ceia matrimonial.
Despertai,
Alegrai-vos para receber o noivo
Ali, vede, ele está chegando

2ªETAPA DO PAS Bach - Cantata BWV 140 - Wachet auf, ruft uns die Stimme

quarta-feira, 27 de abril de 2011

3ª etapa do PAS /Unb

Livros, peças e textos (Contos , poesias e músicas)
1 - Visão 1944 e Mãos dadas, de Carlos Drummond de Andrade;
2- A hora e a vez de Augusto Matraga e A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa;(Contos)
3- Felicidade clandestina e O ovo e a galinha, de Clarice Lispector;
4 - O operário em construção, de Vinícius de Moraes.
5 - Almanaque Brasil Socioambiental 2008 - Disponível para download. Publicação do Instituto Socioambiental (ISA),
6 - Constituição Federal – Título II, capítulo IV, artigos 14 a 17; e Título IV, capítulo I, seções I a IV, artigos 44 a 56.
7 - Texto: Zwkrshjistão (localizado no blog Crepúsculo dos Ídolos - A Filosofia a Golpes de Martelo, Friedrisch Nietzsche
8 - Porque não sou cristão, Bertrand Russel
9 - São Bernardo, Graciliano Ramos,
10 - O analfabeto político, de Bertold Brecht.
11- Campeões do mundo, de Dias Gomes
12 - Artigos científicos como os de Jan Hoeijmakers e Rob DeSalle publicados na edição especial Revolução Genômica, da Revista Fapesp (jun/jul 2008), apresentam importantes elementos para essa reflexão, assim como o Dossiê Darwin, da revista Darcy (número 1)
Filmes:
1 - Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão (Sequência com 06 fragmentos do vídeo no YouTube)

2- Estamira, de Marcos Prado (Sequência com 12 fragmentos do vídeo no YouTube)
3 - Encontro com Milton Santos, de Sílvio Tendler (Sequência com 10 fragmentos do vídeo no YouTube)
Artes plásticas (Artes)
1 - Anunciação, de Djanira,
2- Oratório de mulher, de Farnese de Andrade,
3- O mando da apresentação, de Arthur Bispo do Rosário
4 - Mural da Igrejinha (Brasília – DF), de Luis Galeno,
5- Deuses de um novo mundo, de José Clemente Orozco,
6 - Painel Guerra e Paz, de Cândido Portinari,
7- Império do efêmero, de René Magrite
8- A criança geopolítica observando o nascimento de um novo mundo,
9- Talheres, Arthur Bispo do Rosário,
10- Inserções em circuitos ideológicos, Cildo Meireles Aranhas, Luise Bourgeois,
11- Roda de Bicicleta e Nu descendo a escada, Marcel Duchamp.
12- O grito, de Edward Münch,
13- Retrato de família, de Max Beckmann,
14- Almoço na relva (releitura),e Guernica de Pablo Picasso,
15- Janelas, de Charles Sheeler,
16- O pescador e Abaporu de Tarsila do Amaral,
17- Improvisação número 23, de Kandinsky,
18- Cisnes refletindo elefantes, de Salvador Dalí,
19- A noiva do vento, de Oscar Kokoschka,
20- Parangolés, de Hélio Oiticica,
21- Chaleira Alessi, de Michel Graves,
22- Terno de feltro, de Josef Beuys,
23- Lpis, de Jeff Koons,
23- Autoretrato com macaco, de Frida Kahlo
24- Autoretrato, de Egon Shiele
25- Mona Lisa, de Botero,
26- série Body Builders, de Alex Flemming
27- Marlene Dietrich, de Vick Muniz
,28 –Guernica de Pablo Picasso
Música:
1- Jesus Christ Superstar, de Andrew Lloyd Webber;
2- Até quando esperar, da Plebe Rude;
3- Brasil com P. do rapper GOG;
4 -Suíte para toy piano, John Cage
5- Primavera, Pato Fu
6- Assim falou Zaratustra, Strauss
7- A terceira margem do rio - Interpretação de Caetano Veloso
8- Côco dub, Nação Zumbi
9- Cidadão, de Lúcio Barbosa
10- Cotidiano, de Chico Buarque
11 - Titãs – Epitáfio
12 - Garota de Ipanema – Tom Jobim e Vinícius de Moraes
13 - Caetano Veloso e Gilberto Gil –– Panis et Circenses interpretado por Os Mutantes
14 - Lady Gaga – Paparazzi
15 - Caetano Veloso - Podres Poderes
16 - Gabriel Pensador - Pega Ladrão
17 - Legião Urbana - Que país é esse
Música de Concerto
1 - Richard Strauss – Assim falou Zarathustra, Op. 30 Einleitung (Introdução), Amanhecer e Da Ciência (Fuga)–
2 - Strawinsky – A história do soldado. - Marcha do Soldado e Três Danças: Tango, Valsa e Ragtime
3 - Claudio Santoro e Vinícius de Moraes – Ouve o Silêncio
4 - Gilberto Mendes e Décio Pignatari– Moteto em Ré m - Beba Coca Cola.
5 - John Cage – Suite for Toy Piano - Suíte para piano de brinquedo
– para fazer contraponto com a música de brinquedo do Pato Fu, Primavera música de Cassiano e Silvio Rochael

Peça teatral:
1. Campeões do mundo, de Dias Gomes


Acessar o endereço: http://www.cespe.unb.br/pas/Matriz_Avaliac_3a_etapa_2009-2011.pdf

UnB anuncia novas regras para vestibular e PAS

A Universidade de Brasília aprovou mudanças nas provas do vestibular e do PAS. As novas regras foram discutidas pela Câmara de Ensino de Graduação (CEG) e passam a valer para o primeiro vestibular de 2012 e para quem faz a primeira etapa do PAS no fim do ano. “O principal foco é aumentar a exigência do domínio da língua portuguesa, uma reivindicação que vem dos próprios cursos”, explica a decana de Ensino de Graduação, Márcia Abrahão.

Apenas uma exigência vai passar a valer já para o próximo vestibular, o segundo de 2011: os candidatos aos cursos que possuem turnos diurno e noturno (Direito, Administração, Ciências Contábeis, Ciências Farmacêuticas e Arquitetura) terão uma concorrência única. Hoje, são duas disputas: uma para o diurno e outra para o noturno. Agora, os candidatos serão distribuídos entre os turno de acordo com a ordem de classificação. “Antes, os candidatos antes tinham que adivinhar qual turno teria nota de corte menor. Isso vem para corrigir uma injustiça”, diz a decana. O edital do segundo vestibular de 2011 será publicado na semana que vem.

É importante ressaltar que os estudantes de ensino médio que já fizeram a primeira etapa do PAS não serão afetados. As mudanças que vão valer para o primeiro vestibular de 2012 e para a primeira etapa do PAS 2011 são as seguintes:

01. A redação passa a ter caráter classificatório. Ou seja, a nota da redação será ponderada junto com as outras provas para o cálculo da nota final. No PAS, a redação valerá 10% do argumento da cada etapa. No vestibular, corresponderá a 10% do argumento final.

02. O candidato que não atingir 40% da nota máxima na redação será eliminado. No PAS, esse fator será considerado somente na soma das três etapas. Ou seja, se um aluno zerar a redação na primeira etapa, ainda pode se recuperar nas etapas seguintes.

03. Haverá redação em cada uma das etapas do PAS. Hoje, a redação só acontece na terceira etapa.

04. A UnB passa a aceitar recursos para as notas da redação.

05. O vestibular terá um mínimo de quatro questões discursivas (tipo D) para cada dia de prova. No PAS, serão no mínimo quatro para cada etapa. Essa mudança será gradual. No primeiro vestibular de 2012, por exemplo, devem ser apenas duas questões discursivas para cada dia de prova.

06. Pelo menos metade das questões discursivas vão envolver elaboração de textos em língua portuguesa.

07. Nessas questões, serão corrigidos aspectos microestruturais da escrita, como gramática e ortografia.

08. Os candidatos devem atingir 20% da nota máxima no conjunto das questões discursivas, ou serão eliminados. No PAS, esse cálculo será feito apenas no final das três etapas. É importante ressaltar: as questões tipo D têm caráter classificatório e eliminatório.

09. Os critérios de eliminação em provas objetivas do PAS serão os mesmos do vestibular. Antes, o candidato do PAS tinha que atingir pelo menos 20% da nota mínima. Agora, só precisa acertar mais questões do que errar. Com isso, o processo seletivo do PAS nas provas objetivas fica menos rigoroso.

A decana Márcia Abrahão afirma que o aperfeiçoamento dos processos seletivos da universidade acontece de forma permanente. “Essas mudanças de agora foram sugeridas por uma comissão do Decanato de Ensino de Graduação, e agora foram aprovadas em colegiado”, explica. “Com isso, reforçamos nossa intenção de termos candidatos mais preparados, principalente no domínio da língua portuguesa, e de aumentarmos a transparência do processo, abrindo chance de recursos na redação”.

O edital da primeira etapa do PAS 2011 será divulgado em agosto. Já o edital do primeiro vestibular de 2011 deve sair em setembro, já contemplando essas mudanças. Quem tiver dúvidas pode se informar na Central de Atendimento do Cespe, no telefone (61) 3448-0100.

Fonte: UnB Agência

quinta-feira, 21 de abril de 2011

2ª ETAPA DO PAS/UNB 2011

LIVROS E TEXTOS
1 John Locke – Ensaio Sobre o Entendimento Humano (1690);
2 Voltaire – Cândido, ou o otimismo (1759);
3 Victor Hugo – Os miseráveis
4.Machado de Assis – Dom Casmurro;
5 William Shakespeare – Otelo, o mouro de Veneza;
6.Almanaque Brasil Socioambiental 2008 (Instituto Socioambiental – ISA);
MÚSICAS
1. Johann Sebastian Bach – Cantata 140 (Wachet auf, ruft uns die Stimme), Coro 1 – Wachet auf, ruft uns
die Stimme; no Coro 4 – Zion hort die Wächter Singen; e Ária 6 – dueto soprano e baixo.
2. W. Amadeus Mozart – Kyrie e Lacrimosa da Missa de Réquiem
3. Pe José Maurício Nunes Garcia – Kyrie e Ingemisco da Missa de Réquiem.
4. Susan Boyle – I dreamed a dream. Versão musical, Les Miserables, 1980, de Alain Boublil com música
de Claude-Michel Schönberg;
5. Moreira da Silva – Subida do Morro;
6. Blitz – Você não soube me amar;
7. Caetano Veloso – Quereres;
8. Michael Jackson – Billie Jean;
9. Jatobá – Matança (cantada por Xangai);
10. Chico Buarque de Holanda – Fado Tropical;
11. Dino Rocha – Para ti Ponta Porã;
12. Sivuca – Feira de Mangaio;
13. Renato Borguetti e Vitor e Leo – Milongas para as missões;
14. Toninho Ferragutti – Forró Classudo;
15. Moreira da Silva – Subida do Morro;

2
Com exceção do Almanaque Brasil Socioambiental 2008, publicação do Instituto Socioambiental (ISA:
www.socioambiental.org/home_html), os livros propostos para o Subprograma 2009 são de domínio público. Cabe ressalvar,
porém, de acordo com o Art. 14 da Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 (www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9610.htm),
―É titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público, não podendo opor-se
a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for cópia da sua‖. Sítios recomendados: Biblioteca Nacional
Digital do Brasil (www.bn.br/bndigital) e Ministério da Educação (www.dominiopublico.gov.br). 16. Carmem Miranda – Disseram que eu voltei americanizada;
17. Sepultura – Kaiowas;
18. Saint Saëns - Carnaval dos Animais: Introdução; Tartaruga; Os fosseis;
19. Aboio tema da Abertura do Auto da Compadecida;
20. Léo Jayme com Eduardo Dusek - Rock das Cachorras;
PINTURAS
1. Paul Gauguin – De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?;
2. Modesto Broccos y Gomes - Redenção de Cam;
3. Nelson Screnci – Metamorfose Cultural;
4. Eugene Delacroix - A Liberdade guiando o Povo;
5. Giovanni Volpato - O Quarto Estado;
6. Willian Turner – Naufrágio;
7. Vincent van Gogh - O Semeador;
8. George Seurat - Uma Tarde na Grande Jatte;
9. Jean Baptiste Debret - estudo para Sagração de D. Pedro I e o Jantar;
10. Francisco de Goya - os ex-votos e a série de gravuras Desastres de Guerra;
11. Gustav Klint - O Retrato de Adele
12. Eliseu Visconti - 1091 Golfo de Nápoles com o Vesúvio ao fundo,
RETRATOS
1. Vick Muniz – Valentina;
2. Fotografias de Sarah Bernhardt;
3. Nadar - Intuições Atléticas;
4. Arthur Omar – 2003;
5. Andy Warhol - serigrafias sobre fotografia, como Pelé e Michael Jackson;
ESCULTURAS
1. Galileo Emendabili – Ausência (cemitério do Morumbi-SP);
2. Victor Brecheret – Ave Maria (Mausoléu da Família, necrópole de São Paulo – SP);
3. Bernini – O êxtase de Santa Teresa;
4. Auguste Rodin – O Torso de Adele;
5. Complexo Arquitetônico de Bom Jesus de Matozinhos;
6. Antonio Francisco Lisboa Os profetas e Os Doze Passos da Paixão, Congonhas do Campo-MG;
7. Edgar Degas - a Bailarina de 14 anos e Ensaio de Balé;
8. Eduard Manet - Um bar no Folies-Bergère;
9. Van Gogh - O Quarto, versão de 1889;
10. Jean- François Millet - O Ângelus;
11. Franz Krajberg - Flor do Mangue;
12. Nelson Screnci - Eldorado,
OUTRAS OBRAS
1. Rosalina Paulino – Parede de Memória;
2. Adereços Cerimoniais da tribo Kayabi do Estado de Mato-Grosso;
3. Nelson Leiner – Missamóvel
4. Wanguechi Mutu - Ascensão da Doce Borboleta nos Campos da Matança;
5. Jean-Baptiste Chardin - A Boa Educação;
6. Rafael Frederico - Nu Feminino Deitado;
7. Luis Frederico da Silva - Retrato de Negro;
8. Constituição Federal de 1988, Capítulo II, Direitos Sociais Fundamentais Artigos do 6º ao 11º

SUBPROGRAMA DO PAS 1ª ETAPA/2011

LIVROS E TEXTOS:
• O Discurso da Servidão Voluntária, de Etienne de La Boétie
• Almanaque Brasil Socioambiental 2008, do Instituto Socioambiental*
• Artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, 1988
• A pele do lobo, de Arthur de Azevedo (peça teatral)
• Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga
• A alma encantadora das ruas, de João do Rio
• Textos contemporâneos a serem definidos

MÚSICAS
• Symphoniae (principalmente a antiphona O quam mirabilis est, De patriarchis et prophetis), de Hildegard Von Bingen
• Hino de Duran, O casamento dos pequenos burgueses, Se eu fosse o teu patrão,
• Ópera e Tango do covil, da Ópera do Malandro, de Chico Buarque
• Ópera Carmen, de Bizet
• Bachiana nº 4, de Heitor Villa-Lobos
• Eu nasci com fama, do grupo Móveis Coloniais de Acaju
• Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas e Paulo Coelho, cantada por Móveis Coloniais de Acaju
• Daqui pra frente e Cedo ou tarde, do NX Zero
• Pro dia nascer feliz, Cazuza
• Sweet Lullaby, do Deep Forest
• Sadeness, do Enigma
• Violeira, de Chico Buarque e Tom Jobim
• Obra de Marluí Miranda e do grupo Uaktí
• Funk (a música ainda será definida)

FILMES
• Atlântico negro na rota dos Orixás, de Renato Barbieri
• Para o dia nascer feliz, de João Jardim
• Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá, de Silvio Tendler

ARTES VISUAIS
• Pinturas rupestres realizados na Região de Lagoa Santa (Minas Gerais)
• Grafites dos artistas conhecidos como Os Gêmeos
• Moça com brinco de pérola, 1665, de Jan Veermer
• A velha (Rainha de Tunis), 1513, de Quentin Massys
• O Beijo, 1967, de Valdemar Cordeiro
• Auto-retratos da artista mexicana Frida Kahlo
• Fotografias do acampamento de Sem Terra em Rio Bonito do Iguaçu (Paraná) feitas 1996 por Sebastião Salgado
• Esculturas de Mauritius Cornélius Escher
• Arquitetura do Teatro Nacional de Brasília, de Oscar Niemeyer
• Blocos do Teatro Nacional de Brasília, de Athos Bulcão
• Pirâmides incas de Machu Picchu, no Peru
• Desenhos e vitrais de Henri Matisse, da Capela Nossa Senhora do Rosário em Vence, na França
• Azulejos de Athos Bulcão na Igreja Nossa Senhora de Fátima de Brasília (Igrejinha da 307/308 Sul)
• Exposição das Vacas espalhadas pela Avenida Paulista (em 2005)
• Escultura Meteoro, de Bruno Giorgi (no Palácio do Itamaraty)
• Escultura Condor, de Bruno Giorgi (na Praça da Sé, em São Paulo)
• Ruínas de Stonehenge, na Inglaterra
• Estátua de Carlos Drummond de Andrade em Copacabana (RJ), de Leo Silveira — referência ao poema do escritor Fala, Amendoeira.